A saga de Mateus: a luta do MST pela reforma agrária contada em “Quem faz gemer a terra”
Keywords:
criminalização, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, prisão, “Quem faz gemer a terra”.Abstract
Em Quem faz gemer a terra, obra de Charles Kiefer, Mateus, um homem pobre cujo ofício é lavrar a terra para obter o seu sustento, narra a sua história de vida. O contexto agrário em que Mateus e sua família estão leva-os à perda da sua pequena propriedade rural e à falência. Buscando um pedaço de terra para plantar, unem-se à luta do MST. A vida do personagem principal, relatada em primeira pessoa para seus visitantes na prisão, cruza-se com as lutas e enfrentamentos dos demais colonos que veem a reforma agrária como possibilidade de reconstrução de suas histórias. A sensação incômoda provocada pela união de pessoas fugidas da fome na luta pela terra funde-se à tentativa de criminalização desse grupo social. A demonização do grupo é, então, elevada potencialmente no caso da degola na batalha da Praça da Matriz, fato que motiva a prisão de Mateus. Os assentados, maiores vítimas do sistema econômico e fundiário vigente, transformam-se em inimigos políticos da sociedade. No romance de Kiefer, os personagens encontram na militância o meio para garantir seus direitos à terra, à dignidade, à liberdade e à vida. Neste artigo, a partir dos relatos do personagem principal, Mateus, elucidam-se as relações estabelecidas entre o MST, o sistema penal e as mídias tradicionais na construção social da luta pela terra em um contexto de profunda concentração fundiária. A opção pelo método dialético na análise deveu-se às profundas contradições envolvidas no objeto, tendo sido tratadas em toda sua complexidade.
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